terça-feira, 19 de fevereiro de 2019



ARTISTAS DE TODO O MUNDO
 CONVERGEM PARA OURO PRETO
Publicado no jornal A Gazeta de São Paulo em 22 de julho de 1966


Pintura/ Annamélia / 2007     

Ouro Preto não é somente a cidade histórica mais importante e conhecida do país.
 É também um importante centro artístico.
Atraídos pela beleza de seus casarões velhos, pelo esplendor de suas igrejas e pelo sossego de suas ruas e becos, inúmeros pintores, gravadores e escultores para lá se dirigiram, vindos de todos recantos do país ou do estrangeiro.  


Pintura Nello Nuno /Os Dragões /1966 

 No início, sentem certa dificuldade para se alojarem, pois a maioria dispõe de poucos recursos. Mas os já radicados, colaboram no que podem e muitos hoteleiros e donos de restaurantes aceitam como pagamento de estadias e refeições obras que revendem aos turistas que para aí afluem em grade massa. Aos poucos ,os artistas se vão ambientando e vendendo suas primeiras obras, conseguindo assim independência financeira. Alugam então uma das velhas mansões coloniais e aí se instalam. Inicia-se então a segunda fase de suas vidas em Ouro Preto

Annamélia/ Anjo / xilogravura/ 1966

que é do trabalho intensivo, no qual procuram fazer obras que agradem aos turistas. São geralmente quadros e gravuras que têm por motivo lugares tradicionais da cidade, como igrejas, ruas e vistas gerais.

Annamélia/ Anjos / pintura/ 1968

É com o produto da venda destas obras que o artista se firma, financeiramente falando, e aos poucos começa a pintar de acordo com a própria inspiração. Esta é a terceira fase do artista, na qual ele pode pintar e gravar livremente sem a preocupação de não ter o que comer no dia seguinte.


Nello Nuno/Pintura/ 1971

 Nem todos os artistas que vão a Ouro Preto passam por estas três fazes. Alguns, já com recursos ou fama ,passam imediatamente a pintar de acordo com seus desejos. Outros, menos favorecidos, levam a vida a pintar obras “vendáveis” para turistas, sem esperanças de se firmarem no seu próprio estilo. 
Há também muitos artistas que passam todos os anos alguns meses em Ouro Preto, onde se inspiram na paisagem histórica. É também grande o número de estudantes de Belas Artes, sobretudo os de São Paulo, praticamente obrigados a fazer estágio em Ouro Preto. Outros, estrangeiros, que fazem uma viagem pelo país afim de colher dados, também não se esquecem da meca da pintura brasileira. 

Nello Nuno/Pintura/ 1970


 Entre os pintores visitados pela reportagem de A GAZETA, destacamos Augstinho Rodrigues, Ivã Marquetti, Jarbas, Nello Nuno, Annamélia, Paulo Camargo e Estevão José de Souza. Este último tem sido acusado, injustamente, de ter falsificado obras do famoso mestre Guignard, que passou seus últimos anos de vida pintando e ensinando em Ouro Preto.

Annamélia/ paisagem / pintura/ 2007

Todos os artistas entrevistados declararam unanimemente que, apesar do número sempre crescente de artistas que se dirigem a Ouro Preto, o ambiente cultural ainda não é o que poderia ser. A cidade dispõe de apenas uma galeria de arte, localizada no restaurante “O Pilão" e não há museus de arte moderna.

Anjo / xilogravura/ 1966

Outro fator importante é a fundação de uma escola de Belas Artes em Ouro Preto. A cidade de Belo Horizonte possui uma das escolas mais bem organizadas do país, as autoridades poderiam ,segundo a opinião dos artistas residentes em Ouro Preto ,transferi-la para a antiga capital mineira, pois, ela oferece aos jovens todas as possibilidades de se educar nas artes dispondo de sossego e lugares pitorescos.



Nello Nuno/Pintura/ 1970

Devemos confessar que a instalação de uma Escola de Belas Artes em Ouro Preto consagraria de vez a cidade como capital artística do Brasil. Enquanto isso, os pintores vão pintando, de dia, obras tradicionais para os turistas e, de noite, encerrados em seus estúdios, produzem o que consideram Arte com A maiúsculo; os gravadores vão gravando suas obras, e cada artista, enfim, se vai aperfeiçoando na medida do possível, todos no afã de se promoverem, mas não se esquecendo de que a união faz a força. Todos esquecem suas origens e nacionalidades e são apenas “artistas de Ouro Preto”




Publicado na A Gazeta de São Paulo em 22 de julho de 1966




"Como era  Ouro Preto no fim da década de sessenta para os artistas que aqui chegavam.:
Alguns, como Nello Nuno e eu, vieram  a fim de montar um atelier para voltar todo fim de semana, juntamente com Álvaro Apocalipse, Tereza Apocalipse, Haroldo Matos e Tita. No 1° fim de semana em que viemos, Nello e eu não retornamos para Belo Horizonte. Por aqui ficamos." Annamélia