sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A infância Revisitada

Textos Márcio Sampaio, jornalista crítico de Arte, escritor
 ( membro da Academia Mineira de Letras)

Aquarelas e  gravura em metal (água forte)
de Annamélia




        A revisita à infância não representa, como poderia parecer à primeira vista, um retrocesso técnico ou primarismo, ao contrário, sua aproximação à expressão infantil representa uma longa e penosa jornada: é a busca da espontaneidade, de uma linguagem límpida com que o artista aprofunda o sentido da criação, da vida, das descobertas.



Annamélia busca refletir o mundo revelado e transfigurado pela sensibilidade da criança ainda não contaminada pelos convencionalismos.



 É talvez esta mesma pureza que artistas como Paul Klee e Dubuffet procuram imprimir em suas obras para dar-lhes densidade e sentido no momento em que o mundo em volta imerge na desordenação e no caos.



 Deve-se aqui compreender que tais artistas que perseguem a pureza da expressão fazem com sua experiência adulta, usando uma técnica altamente depurada, através da qual poderão criar o equivalente e não a cópia da arte infantil. 


             Annamélia Lopes apresenta  uma série de gravuras em metal onde se sente, claramente, a       projeção dos valores espirituais que formam e conformam Ouro Preto. Depois de uma etapa em que a xilogravura servia ao gosto lúdico da criação de cartas de jogar com figuração barroca, Annamélia voltou à densa paisagem subjetiva que a gravura em metal, com suas requintadíssimas nuances, permite-lhe explorar.
 A figura sensível ganhou maior espontaneidade, soltou-se em livre voo, para encontrar, na forma da expressão infantil (não infantilizado) a melhor maneira de referir-se a esses medos e sonhos que nos envolvem em Ouro Preto. Sonhos que absorvem a luz dentro da treva para projetar caminhos novos, inventariar mistérios – o mistério da vida nas suas circunstâncias e incertezas