quinta-feira, 8 de novembro de 2018


A ESCOLA DE ARTE DA FAOP NO FINAL DOS ANOS 60.
Texto de Gelcio Fortes


Pintura de Gelcio Fortes  
 Série  “Barquinhos”


Confesso que foi minha primeira matricula com imenso prazer e curiosidade. Desenhista desde criança e adolescente trancado no quarto, estudando arte por correspondência no Instituto Universal Brasileiro, entrar finalmente num atelier ao vivo e ter colegas com o mesmo empenho foi um grande acontecimento na vida.
O Brasil se encontrava a partir de 1969 no período mais duro da ditadura militar. Nós jovens de 17, 18 anos, estávamos entre a repressão absoluta do pensamento livre e uma revolução total que acontecia no mundo, com mudança de comportamentos e uma afirmação radical  de nossa liberdade de expressão.  Encontramos no aconchego dessa Escola o ponto exato onde se cruzavam a informação que o regime oficial nos negava e o estimulo para muitos, que como eu, pensavam em ter nas artes plásticas uma forma de sobrevivência e realização pessoal.
Annamélia e Nello Nuno foram referencias fundamentais para o meu crescimento como artista e como pessoa, num diálogo fraterno como professores e abrindo sua casa para nos receber e compartilhar conosco as “agruras” e alegrias de uma vida profissional como artistas. Eles eram também muito jovens e a criação de uma Escola livre de arte em Ouro Preto representava a continuidade do  sonho plantado por Guignard em Minas nos anos 40,a consolidação de Ouro Preto como um pólo contemporâneo de cultura  no Estado, ao lado dos Festivais de Inverno da UFMG e de todo um corpo de artistas que passaram então, a residir na cidade. 
Foram anos deliciosos com Annamélia e as aulas de desenho de observação da paisagem de Ouro Preto, lápis sobre papel, e muitas idéias na cabeça. Nello foi quem viu e gostou muito dos meus primeiros quadros, topou ser meu professor por um curto período de tempo e me mandou de volta pra casa com o exercício de criar meu próprio atelier.Prontamente organizou minha primeira exposição em Belo Horizonte, sendo a primeira mostra individual de um aluno da FAOP,em 1972,com texto de apresentação de Márcio Sampaio “ Larva Lavra, uma nova visão de Ouro Preto”.
Sou muito grato a todos, colegas como Jorge dos Anjos e Sussuca, entre outros, professores como Madu, Nemer, Jair Inácio, Amílcar de Castro e tudo que nos prendeu e nos envolve até hoje com a nossa Escola de Arte Rodrigo Mello Franco de Andrade/ Fundação de Arte de Ouro Preto, um exemplo feliz de atuação do Estado na cultura, que se somou ao sonho inicial desses dois queridos Annamélia e Nello Nuno. O que dizer mais?... “ a História é um carro alegre, cheio de gente contente, que atropela indiferente, tudo que lhe faça frente”

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Também achei!!!Gratificante acompanhar a trajetória do Gelcio, sempre surpreendendo!

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    2. Que bom ler isso Gélcio. Somos muitos e espalhados por todos os cantos. Uma geração criada na FAOP daqueles anos tensos e com professores de enorme riqueza artística e humana. Obrigado por nos lembrar daquilo que nunca esquecemos.

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    3. Não saiu o nome. Orlando Ramos

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