A ESCOLA DE ARTE DA FAOP NO FINAL DOS ANOS 60.
Texto de Gelcio Fortes
Pintura de Gelcio Fortes
Série “Barquinhos”
Confesso que foi minha primeira
matricula com imenso prazer e curiosidade. Desenhista desde criança e adolescente
trancado no quarto, estudando arte por correspondência no Instituto Universal Brasileiro,
entrar finalmente num atelier ao vivo e ter colegas com o mesmo empenho foi um
grande acontecimento na vida.
O Brasil se encontrava a partir de 1969
no período mais duro da ditadura militar. Nós jovens de 17, 18 anos, estávamos entre
a repressão absoluta do pensamento livre e uma revolução total que acontecia no
mundo, com mudança de comportamentos e uma afirmação radical de nossa liberdade de expressão. Encontramos no aconchego dessa Escola o ponto
exato onde se cruzavam a informação que o regime oficial nos negava e o
estimulo para muitos, que como eu, pensavam em ter nas artes plásticas uma
forma de sobrevivência e realização pessoal.
Annamélia e Nello Nuno foram
referencias fundamentais para o meu crescimento como artista e como pessoa, num
diálogo fraterno como professores e abrindo sua casa para nos receber e
compartilhar conosco as “agruras” e alegrias de uma vida profissional como artistas.
Eles eram também muito jovens e a criação de uma Escola livre de arte em Ouro
Preto representava a continuidade do
sonho plantado por Guignard em Minas nos anos 40,a consolidação de Ouro
Preto como um pólo contemporâneo de cultura
no Estado, ao lado dos Festivais de Inverno da UFMG e de todo um corpo
de artistas que passaram então, a residir na cidade.
Foram anos deliciosos com Annamélia e
as aulas de desenho de observação da paisagem de Ouro Preto, lápis sobre papel,
e muitas idéias na cabeça. Nello foi quem viu e gostou muito dos meus primeiros
quadros, topou ser meu professor por um curto período de tempo e me mandou de
volta pra casa com o exercício de criar meu próprio atelier.Prontamente
organizou minha primeira exposição em Belo Horizonte, sendo a primeira mostra
individual de um aluno da FAOP,em 1972,com texto de apresentação de Márcio
Sampaio “ Larva Lavra, uma nova visão de Ouro Preto”.
Sou muito grato a todos, colegas como
Jorge dos Anjos e Sussuca, entre outros, professores como Madu, Nemer, Jair
Inácio, Amílcar de Castro e tudo que nos prendeu e nos envolve até hoje com a
nossa Escola de Arte Rodrigo Mello Franco de Andrade/ Fundação de Arte de Ouro
Preto, um exemplo feliz de atuação do Estado na cultura, que se somou ao sonho
inicial desses dois queridos Annamélia e Nello Nuno. O que dizer mais?... “ a
História é um carro alegre, cheio de gente contente, que atropela indiferente,
tudo que lhe faça frente”
Lindo depoimento!
ResponderExcluirTambém achei!!!Gratificante acompanhar a trajetória do Gelcio, sempre surpreendendo!
ExcluirQue bom ler isso Gélcio. Somos muitos e espalhados por todos os cantos. Uma geração criada na FAOP daqueles anos tensos e com professores de enorme riqueza artística e humana. Obrigado por nos lembrar daquilo que nunca esquecemos.
ExcluirNão saiu o nome. Orlando Ramos
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