sexta-feira, 3 de maio de 2019




Guignard 
revisitando Ouro Preto

Uma cartografia encantada

Texto de Ângelo Oswaldo de Araújo Santos
Jornalista e escritor, membro da Academia Mineira de Letras

Pintura a óleo
Annamélia 2019

Anna Amélia pinta a planta perspectivada de Ouro Preto, e recria a cidade mágica. Não sei se ela terá visto uma planta do século 19, levantada por Henrique Gerber, que um dia me chegou às mãos, fotocopiada por Dimas Guedes. O engenheiro alemão desenhou a planta urbana de Ouro Preto, do Padre Faria até às Cabeças, assinalando precisamente a forma das edificações existentes em cada rua, como as elipses do Rosário ou o quadrado com pátio interno da Cadeia, hoje Museu da Inconfidência.

O velho mapa me vem à lembrança quando admiro, em imagens de colorido vibrante, a deliciosa apropriação pela artista do traçado de Ouro Preto e seu casario. Mais certo tenha ela se reportado ao célebre desenho de Nello Nuno, que compôs um roteiro da amada cidade, com os referenciais etílicos de todos os quadrantes. O fato é que Anna Amélia transplanta para a tela, com um toque de magia, a trama de ladeiras e becos, descortinando a paisagem sobre o espaço da pintura. Os mapas que agora se abrem enchem-se de lirismo e encantamento, entre cores e formas vivas que seduzem o espectador nos trajetos que se entrelaçam.

Nesta nova série, personagens vêm povoar o sobe e desce dos morros e o vaivém dos telhados. Dona Bárbara Heliodora reaparece na calçada. Cavaleiros e tropeiros atravessam as pontes. Anjos sobrevoam Ouro Preto, como na tela famosa de Armand Pallière, enquanto a banda de música desfila pra lá e pra cá, com seus fogosos dobrados por entre os dobres festivos de sinos na festa dos padroeiros.

De repente, todas as personagens da saga brasileira tomam de Minas a estrada e marcam encontro na cidade. A rosa dos ventos traz a brisa do Itacolomi para a tarde fresca do idílio de Peri e Ceci, irrompidos no palco histórico. Anna Amélia, por fim, convida o espectador a entrar nessa grande terra, com a paixão de Gonzaga, e experimentar a doce emoção de percorrer uma cartografia encantada. E esse panorama da eterna Vila Rica nos envolve para sempre.