Guignard
revisitando Ouro Preto
Uma cartografia
encantada
Texto de Ângelo Oswaldo de Araújo
Santos
Jornalista e escritor, membro da
Academia Mineira de Letras
Pintura a óleo
Annamélia 2019
Anna
Amélia pinta a planta perspectivada de Ouro Preto, e recria a cidade mágica.
Não sei se ela terá visto uma planta do século 19, levantada por Henrique
Gerber, que um dia me chegou às mãos, fotocopiada por Dimas Guedes. O
engenheiro alemão desenhou a planta urbana de Ouro Preto, do Padre Faria até às
Cabeças, assinalando precisamente a forma das edificações existentes em cada
rua, como as elipses do Rosário ou o quadrado com pátio interno da Cadeia, hoje
Museu da Inconfidência.
O
velho mapa me vem à lembrança quando admiro, em imagens de colorido vibrante, a
deliciosa apropriação pela artista do traçado de Ouro Preto e seu casario. Mais
certo tenha ela se reportado ao célebre desenho de Nello Nuno, que compôs um
roteiro da amada cidade, com os referenciais etílicos de todos os quadrantes. O
fato é que Anna Amélia transplanta para a tela, com um toque de magia, a trama
de ladeiras e becos, descortinando a paisagem sobre o espaço da pintura. Os
mapas que agora se abrem enchem-se de lirismo e encantamento, entre cores e
formas vivas que seduzem o espectador nos trajetos que se entrelaçam.
Nesta
nova série, personagens vêm povoar o sobe e desce dos morros e o vaivém dos
telhados. Dona Bárbara Heliodora reaparece na calçada. Cavaleiros e tropeiros
atravessam as pontes. Anjos sobrevoam Ouro Preto, como na tela famosa de Armand
Pallière, enquanto a banda de música desfila pra lá e pra cá, com seus fogosos
dobrados por entre os dobres festivos de sinos na festa dos padroeiros.
De
repente, todas as personagens da saga brasileira tomam de Minas a estrada e marcam encontro na cidade. A rosa dos
ventos traz a brisa do Itacolomi para a tarde fresca do idílio de Peri e Ceci,
irrompidos no palco histórico. Anna Amélia, por fim, convida o espectador a entrar nessa grande terra, com a paixão
de Gonzaga, e experimentar a doce emoção de percorrer uma cartografia
encantada. E esse panorama da eterna Vila Rica nos envolve para sempre.
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