Leilão
/Nello Nuno
Estado
de Minas ,08 de Novembro de 1975
Wilson
Frade
Quinta feira, um grupo ligado às artes
plásticas, imprensa e meios intelectuais esteve reunido na residência do sr e
sra Abílio Machado Filho para tratar da exposição e leilão dos trabalhos doados
pelos mais conhecidos artistas mineiros e colecionadores particulares o conhecido
analista em memória de Nello Nuno.
Em princípio ficou decidido que a mostra
dos trabalhos reunidos será aberta, oficialmente no Palácio das Artes dia vinte
e seis, vinte e sete e vinte e oito. Também ficou decidido que uma escultura
pesando trezentos quilos em metal assinada e doada por Amílcar de Castro Filho,
será exposta, mas não irá a leilão. Será oferecida a uma grande firma, um
banco, que se interessa pela peça para seu acervo por ser bem grande.
Também o conhecido analista Eli Bonini , que
fez doações para esta exposição, colocou à disposição de Anna Amélia a quantia
de vinte mil cruzeiros para a edição de um livro sobre a vida e a obra de Nello
Nuno que será organizado por seus amigos. Entre os presentes à reunião (que
será repetida amanhã), também na casa de Abílio Machado Filho),
Murilo
Rubião, Márcio Sampaio, Armando Ziller Junior, Rui Mourão, Álvaro Apocalipse,
Madú Geraldo Magalhães, Sara ávila e Dirceu de Oliveira entre outros.
UM LEILÃO DE MUITO PRESTÍGIO
ESTADO DE
MINAS – Belo Horizonte, domingo, 16 de novembro de 1975
ARTES VISUAIS
–
Celma Alvim
Um leilão que promete alcançar ampla
repercussão no âmbito dos colecionadores mais exigentes é o que a Fundação de
Arte de Ouro Preto promove nos dias 26, 27 e 28 do mês em curso em memória do
artista Nello Nuno Rangel.
Um valioso acervo, ponderável em quantidade
e especialmente em qualidade, constituirá, não só no aceno sedutor dos
colecionadores, como a característica que permite, desde já, que o referido
leilão seja intitulado “O LEILÃO DO ANO”.
Para atingir este nível, a promoção mereceu
cuidados prévios muito especiais. Em primeiro lugar, destaque para os quatro
meses de intenso trabalho efetuado pela FAOP. Uma tônica de discrição e
sobriedade foi mantida, evitando-se “operações” paralelas de oportunistas que
eventualmente se valessem de clima emocional suscitado pela morte repentina de
artista, o que fatalmente terminaria por criar uma certa nebulosidade, uma
distorção de efeito negativo na imagem pública da promoção.
Também o forte sentimento de amizade que
sempre ligou Nello Nuno a seus colegas, o alto prestígio que Annamélia, sua
mulher, desfruta no metier, foram fatores básicos para esta adesão maciça e
espontânea. Artistas e colecionadores de todo o país se apresentaram como
doadores sem quaisquer pressões, fazendo com que pudéssemos não só registrar um
ato magnífico de solidariedade mas também a realização de um excelente leilão,
“O Leilão do Ano”.
Rui Mourão
( Apresentação no catálogo do Leilão em homenagem a Nello Nuno)
E Nello Nuno habitou entre nós.
Dionisicamente volumoso como todo boa-praça, mãos pequenas, roliços braços
curtos, barbas e cabelos crescidos, andar algo chaplinesco, a sua constante era
o sorriso discreto cheio de ternura. À distância, uma taurínea exuberância
romana; na proximidade, 100 quilos de displicência bonachona, de candura a
expelir frases soltas e sincopadas, como a esbarrar com a dificuldade para a
expressão de tanta simpatia pelo próximo. As suas ideias sobre as coisas, as
suas normas de vida, os seus sentimentos mais profundos? Deviam permanecer
concentrados e recolhidos lá por dentro – não eram valores para com ele
comparecer no convívio com os homens. O seu estar entre os seres devia ser
marcado apenas pelas amenidades: de gestos, de coração, de camaradagem. E pelas
cores de sua palheta, generosamente distribuídas na tarefa diária de contribuir
para o embelezamento do mundo.
A morte repentina foi o ato violento que
atingiu apenas a família e os amigos. Contra Nello mesmo não poderia ter
qualquer ação. A interrupção do curso de sua existência lhe era um fato quase
indiferente e a sua obra permanece acima das contingências materiais, como
comprova esta exposição de homenagem. Nello Nuno é dos poucos que poderiam
produzir um acontecimento como este, em que a emoção dos companheiros se converte numa festa geral de generosidade.
As Gêmeas :Juliana e Tatiana, 1973- Pintura Nello Nuno
Texto de Annamélia sobre Leilão de quadros de Nello Nuno
Nello Nuno e eu nos conhecemos na secretaria de Arte da
UEE/MG em 1961. Ele pintor, eu gravadora e desenhista, residentes em Belo
Horizonte. Fomos a Ouro Preto pela UEE, junto com Celma Alvim (critica da Arte),
Tereza e Àlvaro Apocalipse, Artistas Plasticos, montar uma exposição de Artistas
Mineiros no grande Hotel de Ouro Preto, comemorativa do aniversário da cidade.
Foi quando nos apaixonamos e começamos a namorar. Em 1º de outubro de 1962 nos casamos.Vivemos inicialmente em Lagoa Santa, em uma casa/granja de minha mãe. Éramos dois
artistas plásticos que pretendíam viver às custas da granja, criando pintinhos
para a venda de frangos e ovos.Tivemos nossa 1º filha, Alessandra, em 05/07/1963. Ocorreu então um acidente em que perdemos 200 pintinhos em um dia, e ficamos com dívidas de empréstimo no Banco do Brasil. Então desistimos da granja e voltamos para Belo Horisonte, e por sorte Nello Nuno
começou a vender suas pinturas, as primeiras para a Livraria Itatiaia. Moramos
um tempo na casa de minha sogra e depois na casa de minha mãe. Foi quando
nasceu nosso 2º filho, Nello, em 24/09/1964. Nós, juntamente com mais dois casais, os também artistas Àlvaro e Tereza Apocalípse, e o pintor
Haroldo Matos e sua mulher Tita, escritora, resolvemos alugar uma casa em Ouro
Preto, onde montamos nossos ateliers. Seria só para os finais de semana, todos continuariam
a residir em Belo Horizonte. Mas no primeiro fim de semana em que fomos os três
casais todos retornaram
a BH, exceto Nello Nuno e eu, que ficamos por 3 anos. Foi o maior fim de semana que
vivemos! Isto foi possível devido a um contrato que Nello Nuno fez com o
livreiro e colecionador Samuel Koogan, pelo qual a metade da produção de pinturas
de cada mês seria adquirida por ele. Isto permitiu a nossa permanência em Ouro
Preto por 3 anos. Em 1969 voltamos para Belo Horizonte, onde alugamos uma casa na
rua Antônio Dias, no bairro Santo Antônio. Foi quando nasceu Gabriela em 06/março de 1969. O ano de 1969
foi decisivo para Nello Nuno e eu, pois foi quando tomamos a decisão de voltar a morar
definitivamente em Ouro Preto. Foi uma decisão corajosa, passando a viver
exclusivamente de Arte. Inicialmente moramos em uma pequena chácara no Palácio
Velho. Depois fomos para um casarão em frente à Igreja nossa Senhora do Rosário, onde nasceram as gêmeas Tatiana
e Juliana, em 01/12/1971. Quando Nello
Nuno faleceu repentinamente, a casa que havíamos comprado no Centro estava em
restauração: sem telhado, sem a parte hidráulica e elétrica, portas e janelas também
a substituir. Foi quando os amigos e pessoas ligadas às Artes Plásticas,
colecionadores e intelectuais em geral se uniram, doando quadros para colocar a casa em
condições de receber a mim e a nossos filhos. Foi uma ajuda preciosa, nos
libertando de aluguel. Sou profundamente grata a todos eles.
A família feliz- Annamélia Gabriela, Nellinho auro tertaro de Nello Nuno
Meus amores 1969-pintura Nello Nuno