Annamélia 60 anos de arte’: uma aula de originalidade e delicadeza
Coluna de opinião
Publicado no Portal Ouro Preto a 17/03/2020
ouropreto.com.br
Carolina Coppoli (jornalista, consultora de imagem e comunicação, pesquisadora nas áreas se arte e patrimônio)
Conheci Annamélia em 2017, quando fui
curadora e coordenadora da exposição que homenageou os 50 anos do Festival de
Inverno de Ouro Preto, realizada pela UFOP. Fiquei encantada com a artista
desde o nosso primeiro encontro, no qual ela me contou muitas histórias do
início do festival e do início da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade,
que ela fundou em 1969 junto de seu companheiro Nello Nuno. Escola que acolheu
o primeiro curso de formação de conservadores e restauradores do Brasil, uma
iniciativa do restaurador Jair Afonso Inácio, e pertence a Fundação de
Arte de Ouro Preto - FAOP.
Desde esse primeiro encontro, pensei,
“Annamélia é a história viva do período de efervescência artística e
cultural de Ouro Preto”, como ficou conhecido, entre os moradores da cidade, o
período entre o final da década de 1960 até meados da década de 1990. Sendo
assim, posso afirmar que Annamélia é a história viva do período de
efervescência artística e cultural de Minas Gerais, afinal, Ouro Preto era o
centro desta ebulição no estado, e não há dúvidas disso.
Por tudo isso, e muito mais, quando a
conheci, a minha vontade era passar todas as tardes em seu ateliê ouvindo as
histórias da nossa história, contadas com a intensidade e a vivacidade de quem
as viveu e as construiu. Annamélia não viu a história passar, não foi uma mera
expectadora, ela foi uma de suas construtoras. E construção está
na essência da arte de Annamélia.
Neste mês de março, encerrou-se a
exposição em homenagem aos seus 60 anos de carreira, e, nos 48 minutos do
segundo tempo, consegui visita-la. Demorei, pois gosto de visitar uma exposição
com tempo, dependendo, posso ficar horas passeando por ela, e foi o caso desta.
Logo de início, o choque! Me
surpreendi nas primeiras obras, pois fui transportada para os anos de
1960 e 1970. Os quadros de Annamélia são registros belíssimos, e importantíssimos,
da arte deste período. Belíssimos não apenas pela beleza, mas, principalmente,
pela originalidade. Daí o choque, e daí a necessidade de querer ficar na
exposição por muitas horas, totalmente intrigada e absorvida pelas telas da
artista. Absorvida em sua originalidade, em sua didática, em seu preciosismo,
em sua delicadeza. Que feminino! Poucas vezes vi expresso um feminino tão belo
e delicado de se observar na arte mineira.
E as paisagens de Ouro Preto de
Annamélia? A minha vontade era ter todas elas na sala da minha casa, só para
nunca me esquecer que Ouro Preto é mais que o Barroco! Que Ouro Preto é uma
ideia! Uma ideia mística, lúdica, literária, uma ideia que necessita
sensibilidade para ser assimilada, necessita a sensibilidade de Annamélia. Quanta
didática para expressar Ouro Preto! Aqui incluo a poesia (e muita) no conceito
de didática, já que, de fato, seu significado é a arte de
ensinar. Didática característica de uma grande professora de arte, didática
necessária para fundar a primeira escolinha de arte de Ouro Preto, e, não por
menos, foi ela quem fundou.
Infelizmente, não consegui ficar
horas na exposição ‘Annamélia 60 anos de arte’, mas no outro dia, que já era o
último dia, eu voltei, e consegui ficar mais alguns minutinhos, e teria voltado
muitas e muitas vezes se não tivesse se encerrado, pois esse é o poder da arte,
esse é o poder da boa arte, o poder de inquietar, o poder de mover, a sua
infinitude...
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