quarta-feira, 7 de julho de 2021

 

Depoimento de minha filha Gabriela Rangel



Desenhista , gravadora e pintora

A arte para mim é o ser e o estar no mundo.

A sala de visita era o ateliê do papai, o pintor Nello Nuno, local de brincadeira e de convivência.

 Nos livros de arte os nossos primeiros rabiscos, primeiros desenhos foram feitos com os papeis e tintas de meus pais, minha mãe, a gravadora Annamélia Lopes, fez uma pasta para cada filho. Na varanda desta sala brincávamos de teatro com as marionetes e suas mãozinhas modeladas em couro (achava a coisa mais linda) que mamãe fazia com os alunos dos cursos de arte da FAOP. 

Por que começo com este relato? Conheci a vida e o mundo assim, repleto de arte e amigos artistas, as paredes cheias de quadros, os ateliês cheios de objetos, histórias e mistérios.

 Perceber que não era assim para todos foi um choque. 

Nesta convivência iniciei minha formação nos cursos da FAOP, desenho, história da arte, cor e gravura. Trabalhei no ateliê de gravura com minha mãe até o término do ensino médio.

 Fiz a primeira individual em 1985, expondo a série inicial com o tema das montanhas em visão onírica e imaginária - a aprendiz adolescente olha para o ambiente externo da cidade enquanto conhece e experimenta diversas técnicas da gravura em metal; e a segunda série aonde meu olhar volta-se para o interior da casa e seu cotidiano. Deste período trago a linha direta, o traço firme, a base nos procedimentos da linguagem gráfica, o gosto pela ranhura, pela incisão e o olhar para as coisas do cotidiano. 

Fui compreender o tanto que este período me constitui, quando depois de muitos anos distante da prática cotidiana do ateliê de gravura, em 2004, visitei uma tipografia em São José do Calçado/ES. Eram duas pequenas salas, as prensas, as bancadas de trabalho com os tipos em metal, e um folheto sendo impresso.

 Foi respirar o ar do ambiente que me senti em casa, no aconchego do ateliê de gravura de minha mãe!

Hoje o relato é sobre este início de minha caminhada, o quanto marca minha trajetória e a paixão pela “cozinha” da gravura, que retomo em 2018, e são a base das pesquisas que deram origem aos últimos trabalhos postados.

Janeiro de 2021



    


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