domingo, 27 de setembro de 2020

 

Sumo

Poema de Nello Rangel
Aquarela de Annamélia


nessa terra
desse humos
cada qual 
um por um
mais além
ou aquém
mesmo quem
 diga não
mesmo quando
 divisão
todos somos
somos tantos
tantos únicos
todos juntos
sendo um
sempre
presente
 Humano

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

Um índio

Caetano Veloso

                        
           Aquarela de Annamélia                


Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor
Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto-sim resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará
Não sei dizer assim de um modo explícito

Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio


terça-feira, 15 de setembro de 2020

 

Filhos

Aquarela de Annamélia
Poema de Nello Rangel


 Entre pedras e lages
a água ainda pequena,
 se revolve,
queda, tromba,
 volta, borbulha.
E continua. 
Um pouco adiante,
adolescente,
o fluxo revolve-se, 
perdido redemoinho,
parece afundar.
no remanso,
já maduro,
o rio lhano
flui
no subterrâneo
enquanto lâmina
na superfície
contempla,
renascido,
brincando de mar.





quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 

A infância Revisitada

Aquarela de Annamélia
poesia de José Bergamin


A velhice é uma máscara:
Se tu a tiras, descobres
O rosto infantil da alma

A infância vai te seguindo
Durante toda a vida
Mas ela vai mais devagar
E tu andas sempre 
depressa

Quando a velhice 
chega
Não é que voltes à infância,
É que moderas o passo
E por fim a infância lhe 
alcança.



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 

Cometário  de Márcio Sampaio 

sobre aquarelas de Anna Amélia (Annamélia)


Anna Amélia, na feliz contramão
 do pessimismo  da desesperança,
 deste tempo áspero e sombrio, 
sua arte permanece 
como um espaço luminoso, 
de fé na alegria ainda possível,
na permanência de uma infância 
que temos na nossa memória
e que emerge ativada pela sua arte,
 delicada, leve, e bem humorada
mesmo que tenha em vista que os voos
 possam ter os seus percalços.



07 de setembro de 2020


Márcio Sampaio , artista plastico, poeta, escritor, crítico de arte, 
pertence à Academia Mineira de Letras




domingo, 6 de setembro de 2020


Castelo de Areia

Poema de Nello Rangel
Aquarela de Annamélia 


O castelo de areia
já meio seco
iniciava seu desfazer. 
Mas repeli o menino
que mirava o castelo com olhos cobiçosos
não queria esperar o tempo 
elevar a maré
até engolir
lambida com lambida o castelo inteiro.
Esperança fútil
só hoje o mar preguiçoso 
não subirá.
Até parece,
castelos de areia não duram tanto tempo.
o vento, mesmo sutil,
fará o serviço
devagarinho
Então, melhor seria deixar o menino se divertir
a casa pisada.
Mas não,
Eu insistia -expectativa estéril-
em esperar a maré
na ilusão se que ele permaneceria
mas
castelos
 de areia
sempre vão.

sábado, 5 de setembro de 2020

 

Nesse desassossego

Poesia Nello Rangel
Aquarela de Annamélia


nesse desassossego
alguém está
sem dúvida
sem sombra
sem medo
nem receio

nessa inquietação
alguém procura
uma bússola
uma mão
um pedaço
de chão

nesses momentos 
alguém ignora
a direção
pouco conhece
mas espera

quem agora
sabe-se perdido
sem ilusão
tem a sorte
de ter um norte