domingo, 6 de junho de 2021

 

A memória é verde

Poesia de Nello Rangel

Aquarela de Annamélia

 


Lá no fundo do quintal,

onde terminavam os canteiros,

e morava a última mangueira

- aquela, que só dava frutos secos -

principiava o bambuzal.

Nele eu entrava, pela passagem escondida

entre os bambus mais novos da frente,

e chegava na “sala”, no meio das folhas e talos.

Até ali, tudo bem.

Seguir além era mais complicado.

Logo me confundia no emaranhado verde

de galhos, cipós, musgos e humidade.

Tentando dormir, com um pouco de frio,

me vi lá, onde tudo era familiar,

mas confuso, misturado, indistinto.

Ali estavam as raízes,

ocultas no húmus vivo.

A mata, sempre uma tentação

de retornar, atrás e longe.

E um receio de sumir

entre sombras passadas.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário