A paixão por Ouro Preto é retratada nas obras da séria
“Cartografia Ingênua” de Annamélia. Nello Nuno, grande artista mineiro (in
memoriam) e esposo de Annamélia, em poesia já vislumbrava esta paixão: “No ventre
de Annamélia, bem no fundo, no verde em ondas de montanhas do ventre de
Annamélia vive a alma de ouro preto”.
Ainda sobre o trabalho de Annamélia, Márcio Sampaio escreve:“Da longa convivência com Ouro Preto, cidade que
escolheu para morar com o marido Nello Nuno e os filhos, soube assimilar o pathos singular da expressão barroca,
transportando-o para o espaço contemporâneo. Da interpretação da paisagem em
perspectiva renascentista, Anna Amélia mudou, recentemente, seu ponto de vista
para a tomada aérea, planificando os panoramas, para construir uma nova
cartografia, com riqueza de detalhes que podemos identificar, porém com a
liberdade de às vezes trair a realidade ao adicionar elementos inexistentes. Na
pintura, a fantasia é que dá o tom dessa figuração que quer dizer de um cenário
percebido no plano da realidade, mas que insiste em ser mais além do que o
olhar vê. Cores fortes que respondem a uma pulsação mais emocional contaminam
as formas arquitetônicas, desfazem o rigor da técnica cartográfica, para nos
brindar com uma outra paisagem impregnada de poesia. Um “topos” em que natureza
e construção se complementam com fantasia e afetividade. Espaço simbólico a
indicar a existência de uma cidade que será sempre o lugar bom para se viver e
sonhar. ”
A vida em família sobre influência de pai e mãe
artistas, trouxe para Gabriela, Tatiana e Juliana a arte em todos os sentidos.
Tatiana Rangel também manifesta sua paixão por Ouro
Preto nas obras da série “Mosaico Barroco”, trazendo o movimento dos
sentimentos na forma de cores fortes e linhas marcantes. “Impregnada do sentido
mais profundo da alma popular, sua pintura constitui alegre agenda de experiências
vividas e imaginadas, traduzindo o gosto pela luz, pelo colorido e pela leveza
que se contrapõem à densidade dramática do barroco”, relata Márcio Sampaio
sobre a sua pintura.
Juliana Rangel, professora da UFV e recente artista
autodidata, traz obras de sua série “Poesias e Cores da Alma” que através da
transparência das aquarelas busca falar das várias dimensões dos seus
sentimentos. Suas obras são centradas na fluidez de aguadas, porém de cores fortes,
em elementos da natureza e experiências sentimentais na forma de poesias
ingênuas e livres de pragmatismos.
Já Gabriela faz do desenho e da pintura o campo
para registro de suas memórias e afetos, do ser e estar no mundo. Márcio
Sampaio nos diz em apresentação “Ser ou não pintura - não estará aí a questão dessa obra
surpreendente. O eixo de sua expressão se inclina para várias direções
cardeais, sob fortes ventos da angústia e do desconforto provocados nesse
processo de revolver a realidade, reconstruindo antigas experiências. Se há que
revolvê-la, envolvê-la, capturá-la e lavá-la em claras águas para devolvê-la
com sentido, o desenho de Gabriela, assume a tarefa de reconstituir o mundo e
restituí-lo à nossa leitura, não em estado
plano, mas envolto na inquietante névoa do mistério".
Voltando às
origens da família, as artistas trazem esta sensível exposição ao local de
nascimento de Nello Nuno, que nasceu em 1939, na fazenda do Xaxá, atual
Laboratório de Dendrologia da UFV. Assim as artistas reencontram suas memórias
afetivas através da dança das cores e formas, por mais que individuais, ainda
impregnadas das vivências afetivas coletivas e familiares.
Parabéns a todas! Lindos trabalhos!!
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