sexta-feira, 28 de setembro de 2018


Casamento
Pintura a óleo
autor Nello Nuno

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POEMA PARA ANNAMÉLIA

As andorinhas desenham o céu de Ouro Preto.

Annamélia é o ninho das andorinhas de Ouro Preto.
O sol rasga as nuvens de Ouro Preto.
Annamélia aquece o sol de ouro em pó.
Os urubus circundam a carne de Ouro Preto.
Annamélia colore os urubus de ouro e bruma.
A lua escorre nas noites de Ouro Preto.
Annamélia é  lua cheia de Ouro Preto.
A chuva brinca nas ladeiras de Ouro Preto.
Annamélia chora os rios de ouro em gota.
Nos olhos de Annamélia vivem as andorinhas, o sol,
A lua, a chuva, o céu, as noites e a carne de Ouro Preto.
Na boca de Anamélia brincam os dias, as nuvens,
As flores, as plantas e as queresmeiras roxas de Ouro Preto.
No corpo de Annamélia dança, e cantam o Zé Pereira,
Os congados, as festas, as fogueiras e os fogos das noites de Ouro Preto.
No ventre de Anamélia, bem no fundo, no verde em ondas
de montanhas do ventre de Annamélia vive a alma de Ouro Preto.

(Ouro Preto, 1971)








quinta-feira, 27 de setembro de 2018


Paisagens de Ouro Preto

Reportagem de Walter SebastiãoJornal “Estado de Minas”- sábado, 15 de março de 2008Artes Visuais


Annamelia Lopes mostra, até abril, pinturas e gravuras em exposição na Fundação de Arte da cidade histórica. Aos 50 anos de trajetória artística, ela inaugura nova fase em sua obra.

Um galerista depois de comprar gravuras de Annamélia Lopes, mineira de Ouro Preto, de 72 anos, com importante obra gráfica, perguntou a ela: ”será que você consegue o mesmo clima destas paisagens na pintura?” “Como já vinha imprimindo gravuras em cor e aquarelando algumas imagens, decidi aceitar o desafio. E comecei a trabalhar em releitura das obras em óleo”. Conta a artista. Os primeiros resultados da empreitada estão em exposição na Fundação de Arte de Ouro Preto, em mostra que reúne 10 pinturas e 10 gravuras - sete dos anos 1980 e 90 e três produzidas recentemente.
“Minhas paisagens de Ouro Preto, como diz Márcio Sampaio, são poesia e tragédia, delicadeza e violência. Trabalho com contrastes, a plástica do casario me atrai, mas gosto dela inserida no verde, com as flores”. Explica Annamélia, dizendo que o mesmo clima que está nas gravuras, ela gostaria de levar para a pintura. São trabalhos praticamente monocromáticos, com detalhes em outras cores, que tem no desenho um fundamento. Se a paixão pela gravura cruzou a vida da artista, a sedução pela pintura também é antiga. Ela pintou quando estava grávida e não podia ficar envolvida com procedimentos gráficos.
Na timidez das investidas influiu o fato de ela ser casada com Nello Nuno – “ele fazia o que eu queria fazer”. A artista até vê em alguns trabalhos atuais alguma influência dele, como no uso livre da cor, (“ mas sou mais harmonia “, avisa) e está adorando o envolvimento com tintas e pincéis. “É gostoso, você entra num clima muito bom. Dá tesão. Desenho e gravura costumam ser muito sérios, pintura é mais leve”, observa. A opção por releitura das gravuras deve-se ao fato de ela gostar dos desenhos feitos para impressão, pela visualidade algo ingênua, primitiva, como realizados de brincadeira. Criações que aproveita quando quer trabalhar a cor de forma mais direta.   


terça-feira, 25 de setembro de 2018



Paisagens
de Ouro Preto/Annamélia 

Opiniões da Artista
*OURO PRETO Está dentro de mim, como diz poema de Nello Nuno. Conheci a cidade já adulta, viemos passar um fim de semana e ficamos três anos. Voltamos para Belo Horizonte e depois nos mudamos para Ouro Preto. Apesar de ter gente que diz que é cidade que deprime, para mim parecia sempre feriado nacional. Gosto do visual, da plástica, é fascinante. Por isso sinto tanto as transformações, as violências contra ela. É o mais bonito cartão postal que conheço. A fusão de arquitetura e paisagem é incrível. Mas gosto muito também do mar. É misterioso e, depois, é ótimo ficar ali, naquele espaço tão aberto. Todo ano vou ver o mar.
*50 ANOS DE ARTE Foram bem vividos. Fiz arte, criei escola, dei aula. O difícil é não conseguir viver da venda do trabalho. O mais gostoso é a abertura de visão no sentido de ser mais livre, mais alegre. É o que sempre tento passar para meus alunos. Ensinar técnica é fácil, abrir cabeça é mais delicado. Mas acho que, apesar de todas dificuldades, não devemos desistir, devemos pegar o suor de fazer arte e aprender com a própria experiência. Às vezes, com instalações, querendo coisas extraordinárias, ficamos meio confusos. O melhor é partir do simples e a partir dele, 
chegar a algo extraordinário.
*VIDA Tenho muito prazer de viver. Levanto cedo e de bom humor. Gosto do cotidiano, de ver como mudam os dias, a natureza, os filhos. Houve épocas difíceis, mas deu para caminhar. A perda de Nello Nuno foi um momento difícil, mas com sete filhos para criar, nem deu tempo de ficar parada. Tive épocas de melancolia, mas com a idade a gente dá mais valor às pequenas coisas, a detalhes que não percebia quando era jovem e queria abraçar o mundo de uma vez só, 
e isso faz a vida mais bela ainda.
“ Pinturas de Annamélia Lopes retratam uma Ouro Preto que conjuga poesia e tragédia”.
Walter Sebastião
Reportagem de Walter Sebastião
Jornal “Estado de Minas” Cultura / 15 de março de 2008

segunda-feira, 24 de setembro de 2018



 A realidade da Fundação de Arte de Ouro Preto,
20 anos depois
Jornal HOJE EM DIA/ Belo Horizonte, 04 de abril de 1989

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Permanece a fama de uma boa escola

Felizmente sempre existem pessoas conscientes do papel cultural que desempenham, acima das efemeridades dos governos e resistem a todo o custo. Na Faop, entre os que se enquadram na situação, está a artista plástica Anna Amélia Lopes de Oliveira, fundadora da instituição e ainda em plena atividade no curso de gravura em metal. Ela reconhece a pior crise da fundação, motivo de sobra para um desaquecimento da escola, mas trabalha e torce para uma reversão no processo.
Há pouco mais de 20 anos, Annamélia e seu marido Nello Nuno (falecido em 75), mudaram-se para Ouro Preto. Os dois artistas plásticos recebiam muitas pessoas que traziam indagações sobre arte. Decidiram então criar uma escola de arte para atender a demanda, porém sentiram de perto as dificuldades financeiras dos interessados. Boa parte da população da cidade é constituída por pessoas de outros lugares, estudantes que mal consegue marcar com moradia e alimentação.
O casal ofereceu a escola para a Faop, maneira dos interessados usufruírem gratuitamente do ensino de arte, e assim foi feito. A fundação que acabara de ser criada pelo governador Israel Pinheiro, depois de uma intensa movimentação da classe artística de Minas, incluindo nomes como Vinícius de Morais (morava em Ouro Preto na época), Domitila do Amaral, Murilo Rubião e Afonso Ávila, ganhava uma escola de arte.
Annamélia foi a diretora durante dez anos e lembra os anos de intensa movimentação, dos professores Amílcar de Castro, (de escultura), Afrânio Lacerda (música), Moacir Laterza (história da arte) e muitos outros
O curso de restauração foi implantado por um dos pioneiros do ramo, Jair Afonso Inácio, falecido em 82 e agora substituído por Orlando Ramos. Através deste curso a profissão tomou força no país.
Nos seus melhores anos, a fundação sediou numerosos acontecimentos que reforçavam sua importância. Recebia professores convidados para cursos rápidos, palestras e debates, somando a seu currículo nomes como João Câmara, Frederico de Morais e Olívio Tavares. Programavam-se exposições dos alunos, peças de teatro, etc.
“Tudo isso, enfatiza Annamélia, acompanhando o espírito de uma escola livre, em que não há tentativas de tolhimento por parte do corpo docente em detrimento do discente, ou seja, não existe padronização ou sujeição a um determinado estilo, mas basicamente um trabalho de desenvolver no aluno suas próprias tendências.”
Os programas dos cursos são maleáveis e adaptáveis a diversas situações de nível cultural dos estudantes, o que resulta na não definição de tempo para duração do curso.
A escola não exige pré-requisito, não pede provas vestibulares, é gratuita, fornece material básico de atelier. A seleção se restringe a uma entrevista com o candidato e é feita porque a escola não tem condições físicas de abrigar todos os alunos. Eles são ao todo, somando-se os cursos, 300 alunos em média anual. O curso de restauração, por exemplo, abre 10 vagas ao ano.
A filosofia, o cenário, a capacidade do corpo docente, enfim, “a escola tem tudo para dar certo”, observa Annamélia, que considera o mais importante neste momento de insegurança, conseguir manter o quadro de professores. O desânimo é patente, não há incentivos, e se por um lado os alunos não têm culpa da crise, é difícil cobrar a presença de um professor que praticamente paga para dar aula - a maioria do corpo docente é de Belo Horizonte.
O resultado da insuficiência salarial é que o professor tem que se dedicar a outras atividades para sobreviverem. A própria Anna Amélia, mesmo mantendo a dedicação à Faop (seu curso é dos menos afetados) não interrompeu seu trabalho artístico com gravuras, através do qual completa o sustento de sua família. A defasagem salarial sem reposição desde janeiro de 86, é de 1.017% segundo o Sindicato dos Professores de Minas Gerais, e a dúvida é até quando o amor à escola vai suportar a situação de penúria.
Observação:
Gostaria de saber o repórter autor deste texto, infelizmente não tenho o registro no recorte do jornal , se alguém o identificar por favor faça contato pelo e-mail annaalo36@gmail.com.
Annamélia


domingo, 23 de setembro de 2018




Do Rosário á Casa dos Contos 
Tríplitico / Pintura a óleo
Annamélia

Estas 3 pinturas devem ser colocadas uma ao lado da outra, formando então o trajeto desde o rosário até o chafariz depois da casa dos contos.

Ouro Preto no Itamaraty

Mostra traz a Brasília arte mineira
em 1º plano Chiquitão mostra cachimbos de escravos dos séculos XVIII e XIX
Ao fundo "paus de chuva" de Annamélia
(Tubos de pvc revestidos com xilogravuras de Annamélia)

JORNAL HOJE EM DIA , distrito Federal- outubro 1998

sexta-feira, 21 de setembro de 2018


Feira de arte da FAOP

1970
Da direita para a esquerda (em baixo): 
Annamélia, Alessandra, Zélia, e Hilda.
Em cima:
 Jaderzinho, um escultor, Petrus Evangelista, Petrinhos, Garié 

quinta-feira, 20 de setembro de 2018


Multiplicação de Imagem
Walter Sebastião
Publicado no jornal “Estado de Minas”/Semana de 14 a 20 de novembro de 1997

Um nome muito especial das artes visuais de Minas Gerais: Annamélia. O que ela faz: gravuras em metal e Xilo, que vão dando campo a um pensar cuja delicadeza e sabedoria a cada nova aparição emocionam. Na base de tudo estaria uma situação ambígua: ritmos visuais, partituras de formas e ícones, que fundam um texto que é tanto ótico quanto histórico e político-social, sem que as duas dimensões se atropelem. Quem não conhece a bela obra da autora, muito conhecida por suas sólidas ligações com a arte e o ensino de arte, mas também figurinha rara no circuito de exposições, tem agora uma oportunidade de ver seus trabalhos. Na próxima terça feira, às 20h, ela abre mostra na Cemig (avenida Barbacena, 1.200, térreo, Santo Agostinho).
A mostra chama-se “Diversidade/Adversidade”. A primeira palavra alude ao interesse pela ordenação espacial da forma, pela multiplicação de imagens, pelo ato de montar e desmontar a imagem, a segunda, a uma situação de povos em luta, poderes em conflito, embates entre opressão e desejo de liberdade.
Fase atual - “São coisas para a gente pensar, para refletir”, anota Annamélia chamando para o fato de que “o momento de globalização “ coloca todas estas questões em pauta. “Na composição sempre procurou elemento de harmonia, mas também tento quebrar um pouco este valor”, completa lembrando que elementos contrastantes existem na vida cotidiana e, de alguma forma, acabam chegando até os trabalhos. As novidades com relação a atual fase do trabalho – que vem sendo desenvolvido há mais de 20 anos e já valeu à artista o prêmio Itamaraty na X Bienal de São Paulo – é a troca de raciocínio de oposições, “que abandona”, por uma busca de totalidade. “Nada é só bom ou só mal. A gente carrega as duas coisas. E é tentando modificar o que é ruim que a gente cresce”, explica. Para a artista, a arte da gravura cobra de um artista “conhecer bem a técnica e extrapolar seus limites. Até porque “ a gente é livre para fazer o que quiser mas também tem que experimentar novas possibilidades, para não ficar preso. Senão fica monótono”, finaliza Annamélia   


terça-feira, 18 de setembro de 2018


Texto de Ângelo Oswaldo

PENSAR 
Estado de Minas / pagina 3 / 22 de novembro de 1993
Arte em lance de tacos
Gravura de Anna Amélia

A destacada gravadora mineira apresenta obras recentes
 em exposição na Galeria da Cemig 

Anna Amélia Lopes de Oliveira é nome reconhecido no campo da gravura no Brasil.
Participou da Bienal de São Paulo. E dirigiu por muito tempo a escola “Rodrigo Melo Franco de Andrade” da Fundação de Arte de Ouro Preto, Faop, onde criou um importante atelier destinado à formação das gerações novas. Simultaneamente, levou adiante uma pesquisa original, que contribuiu tanto para a qualidade das paisagens ouro-pretanas  que gosta de gravar quanto para o surgimento de uma vertente própria, marcada por uma maneira de criar caminhos.
Ao serializar o que chamou de tacos pelo formato retangular das pranchas, a gravadora conquistou um elemento chave para a evolução de seu trabalho. A montagem das pranchas acabou sugerindo-lhe a ideia de um jogo e estimulou   a articulação lúdica dos fragmentos gravados. Como um quebra cabeça com peças para serem armadas, ou no caleidoscópio, com a seguida transformação da imagem pelo movimento, ela passou a jogar com as lâminas, de modo a também tirar partido de sua cor. Lembranças dos dominós e das cartas ultrapassando as formas tradicionais dos próprios jogos, alcançando novas possibilidades. O formato triangular adveio dessa movimentação. 
Através do gesto lúdico, Annamélia expandiu a dimensão de seus trabalhos, ao multiplicar as lâminas e ampliar as superfícies ocupadas. Figuras gravadas começaram a dialogar entre si, e essa nova relação acabou por insinuar a colagem. Assim fragmentos de impressão diversas se superpuseram às peças gravadas, permitindo à artistas resultados inéditos. A gravura torna-se uma soma de técnicas e potencialidades, aguçando ainda mais a criatividade da autora. Pode-se dizer com o poeta, que o lance de tacos não abole o acaso: a artista se compraz com a reinvenção proposta aleatoriamente pelas laminas, deixa-se conduzir, mas, ao mesmo tempo atinge pontos que já a haviam fascinado. É assim que por vezes, narrativas parecem querer entrarem cena em questões que inquietam a sensibilidade da gravadora emergem como a emoção que vem à flor da pele. A raiz do ludismo também aflora: são jogos que saltam das gravuras para a terceira dimensão e convidam o espectador a armá-los. Arte e jogo se encaixam. E se completam.


PENSAR
Pagina 3 / Estado de Minas 
22 de novembro de 1997
texto de Ângelo Oswaldo de Araújo Santos





ANNAMEÉLIA
Diversidade / Adiversidade
Xilogravuras / Colagens
CEMIG / Galeria de Arte
1997



segunda-feira, 17 de setembro de 2018


Annamélia 
Márcio Sampaio / (Artes Plásticas / Suplemento Literário / 05/07/1969)

     A indicação para prêmio de aquisição no III Salão de Ouro Preto e o primeiro prêmio de gravura no Salão da Alliance Française recentemente realizado em Belo Horizonte, trouxeram à baila o nome de Annamélia. Gravadora e desenhista é bem conhecida, mas avessa ao grupismo e à publicidade, preferindo sempre trabalhar silenciosamente muitas vezes negando-se a participar dos salões. Somente no fim do ano passado é que resolveu mandar seus trabalhos para o Salão Municipal do qual participou com destaque tornando-se uma das boas surpresas apresentadas por aquele certame. Em abril, apresentou no Salão de Ouro Preto (certame de âmbito nacional) suas novas gravuras com as quais obteve em prêmio de aquisição. Mas o nosso ver ( e nesse ponto concordamos com o crítico Morgan Motta que escreveu a respeito na sua coluna do "Diário da Tarde") Annamélia deveria receber o prêmio maior visto serem suas gravuras a melhor coisa apresentada no Salão, muitos furos acima daquela gravura que obteve o primeiro prêmio. Já no Salão da  Alliance Française, fez-se justiça à artista concedendo-lhe o júri o primeiro prêmio de gravura. Seus três trabalhos demonstram a maturidade da artista, sem dúvida nenhuma, dos melhores gravadores de Minas.
     Annamélia não teve uma iniciação muito feliz, tendo aprendido gravura e desenho (aprendido, não é bem o termo) na Escola de Belas Artes da UFMG, nos tempos heróicos em que esta era ligada à Faculdade de Arquitetura. Terminando o curso, passou a residir em Lagoa Santa e mais tarde em Ouro Preto. Trabalho sozinha na xilogravura e na gravura em metal, aprendendo consigo mesma, à força de muita pesquisa e paciente trabalho, fixou-se na xilogravura. Nesta época particiopou de algumas poucas exposições e Salões, obtendo, porém prêmios importantes. Os três anos que passou em Ouro Preto foram tremendamente importantes e decidiram na sua "carreira" de gravadora. Não há artista que, morando na vela Vila Rica, não se deixe impregnar daquela atmosfera sombria, do barroco apaixonado, de suas igrejas e de sua topografia. A matéria está viva pronta a ser trabalhada, e os artistas os mais modernos ou os mais tradicionais não têm como fugir dessa amável solicitação.
     Annamélia criou algumas obras de grande beleza tendo como inspiração as coisas de Ouro Preto. São famosos os seus anjos (os próprios filhos feiro anjos) desenhados ou gravados que ela expôs na Galeria Guignard (1965). Toda a poesia e uma ternura comovente impregnam aquelas formas que nasceram (como nasceram no século do ouro) do Amor. Estas suas gravuras (assim como os desenhos desta época) são um capítulo especial na obra da artista. Delas nasce uma fonte de pura e serena água, uma luminosidade que nos lava. Annamélia conseguiu usar o tema sem se deixar corromper pelo que de fácil apresenta, pelo falso lirismo ou pelo apelo ao sentimental. Ao contrário, ela soube somar à imagem barroca daqueles anjos, uma nova dimensão que lhe deu - quer pela composição apaixonada, que pelo elemento poético suficientemente atual na forma - uma nova carga que transcende ao modelo para exprimir-se em liberdade uma encenação nova e sempre consequente. Da mesma maneira, Annamélia desenho e gravou as paisagens de Ouro Preto, mu ..... ca, porém, deixando-se domar pela “beleza” exterior, mas sempre acrescentando à paisagem uma nota pessoal e lhe dando nova vida.
    Esse trabalho Annamélia continuou até 1966, quando vindo para Belo Horizonte, (quando passou a ensinar xilogravura na Escola Guignard) iniciou uma nova fase com a atenção voltada para um outro lirismo inspirado na música popular brasileira. Era ainda uma dependência ao tema (mas uma completa independência de invenção formal) como antes, quando se prendia à paisagem ou a certos detalhes de arte barroca de Minas.
     Na fase das canções brasileiras, Annamélia dirigia-se a outro círculo de vigência, fazendo o re-retrato das paixões, das dores, das alegrias, do lirismo brasileiro. Formalmente, permaneciam o ritmo e a composição barroca e, como era de se prever, iniciava uma caminhada para uma surrealidade, para o fabuloso. Sempre presa à sua realidade e ao seu mundo, deixava-se porém voar, aumentando cada vez mais a metragem desse cordão umbilical que prende cada ser à sua terra, à inspiração e experiências primeiras. Em João Bobo, Mané Fogueteiro e a Banda, a inocência marcava a continuidade das antigas gravuras, bem como o sublime de Chão de Estrelas, mas em Roda Viva dá uma guinada e conduz seu trabalho para “o outro lado da realidade” o dramático que se reforça na contundência do corte, na composição mais expressionista, acentuando o caráter trágico, levando a  artista a reformular seu trabalho e iniciar uma nova fase (meados de 1968).

AS CARTAS NA MESA

    Nas primeiras obras desta sua mais recente fase de trabalho, Annamélia mostrava-se ainda presa a certos temas da mpb, mas em pouco deixou-se desligar de tudo para uma corrida em completa liberdade, sem elo com quaisquer discursos antes conhecidos. Iniciou então um trabalho fundamente mental, elaborando as bases de um jogo, que aos poucos, se vai transformando numa partida de qualidade “nobre” de reis e damas, numa feérica dominação de alta inventividade em que a intuição e os transbordamentos líricos deixam lugar ao pensamento fino e sutil, ao raciocínio e à prática intelectual do lúdico e do geométrico. Há contudo uma expressão interior a que não podemos deixar de referir: a busca de uma correlação entre o intelectual e o emocional, logo contida, porém, pela medida geométrica modular e pelo estudo dos efeitos de cromatismo ou reflexão de luz, quase científico. As cartas de Roda Viva cederam lugar a outras cartas, aos módulos que compõem uma nova canção, mas uma canção da era da eletrônica e do computador. Sobrevive no entanto, as marcas de sua profunda paixão pela vida, a vida que a arte lhe pode perpetuar; esta paixão se imprime nas formas interiores estampadas, nos grandes relevos brancos que testemunham o trabalho da goiva – isto sim, a permanência do vigor, da vitalidade, da paixão, do trabalho, da busca de compreensão da vida interior e da própria essência da matéria que trabalha. Configuram-se, emolduradas pela forma geométrica dos planos modulares e da composição destes módulos na grande folha branca, expressões poéticas apresentadas por um processo inovador, pela montagem de “cartas” de valor semântico e codificáveis, numa sucessão de contrastes e cortes (sempre a dualidade: bem/mal, vida/morte, homem/mulher, claro/escuro) que a medida que se desenvolvem vão ganhando relevos ou se perdendo na linha do matiz que busca, no final, o asseptismo do branco, vale dizer: a ascese.

domingo, 16 de setembro de 2018


A presença de Nello Nuno e Annamélia em Ouro Preto deu um sopro de modernidade no mercado tomado pela “pintura turística”, diz Márcio Sampaio curador da exposição: ”Verde que te quero Vermelho”, .......... Para Sampaio o artista antecipou a arte-objeto e a arte conceitual em séries realizadas em 1967...... o mais importante em Nuno foi a valorização da pintura-pintura, em meio a todos experimentalismos. “Ele nunca abriu mão de ser pintor”, diz Sampaio.

Se o fundamental em Nuno é o “essencialíssimo, a principal característica da obra de Annamélia ´´´´´´´´ é a tensão entre os planos internos e externos da peça xilográfica. “Enquanto no interno há referências figurativas ligadas à imaginária e à talha barroca, externamente a estrutura é geométrica”, avalia Sampaio. Sua obra tem uma “pulsação expressionista “, analisa.

Textos de Wir Caetano em reportagem especial para o jornal - O TEMPO – a 15/10/1998  


Texto do jornal o Tempo:
TRÊS DÉCADAS DE ARTE NA FAOP
Para comemorar seus 30 anos, a Fundação de Arte de Ouro Preto define programação que inclui exposições, palestras e debates.
Wir Caetano,
Especial para “O Tempo”     a 15/10/1998  

Ânsia de contemporaneidade. Esse era o grande sintoma de um grupo de artistas que resolveu mudar na Ouro Preto dos anos 60, o cenário dominado pelo “kitsch” das pinturas figurativas retratando telhados e esquinas da velha Vila Rica. Esse sintoma acabaria por desaguar na Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), inaugurada em 1968, que está comemorando 30 anos.
Para celebrar a FAOP conta com uma programação que envolve exposição de obras de Nello Nuno e Annamélia (de 20 a 25 de novembro) outra de ex-alunos, palestras e debates. Por sua sede passaram nomes significativos das artes plásticas da segunda metade de nosso breve século 20, como os professores José Alberto Nemer, Jarbas Juarez, Carlos Bracher , Carlos Scliar, Maria Helena Andrés e Madu. Entre os alunos. O poeta, editor e artista gráfico Guilherme Mansur, o restaurador Olavo Ramos e Jorge dos Anjos, que veio também a lecionar na instituição.
A história da FAOP começou com Otto Lara Rezende, que queria oferecer um novo emprego a Vinicius de Morais, na época funcionário do Itamarati e na mira da ditadura militar. Otto intercedeu junto ao então governador de Minas, Israel Pinheiro, para convidar o poetinha a vir trabalhar em Minas. Vinicius aceitou o convite e aportou em Ouro Preto. Foi em meio do casarão barroco que ele conheceu Domitila do Amaral, atuante no meio teatral, e começaram a idealizar um espaço cultural para agitar a velha capital das Gerais. No dia 25 de novembro de 1968, Israel Pinheiro inaugurava esse espaço - a Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), cujo primeiro presidente foi o escritor Murilo Rubião.
“Escolinha”
“Sugerimos a Murilo Rubião assumir a escola”, conta Annamélia Lopes que, com o marido Nello Nuno (cuja obra teve sua fase “muriliana”, criou a escola de artes plásticas e restauração Rodrigo Mello Franco de Andrade, o eixo mor da FAOP. Isso foi em 1972. Até então a FAOP funcionava como uma espécie de secretaria de cultura, destinada à promoção festivais e oficinas de arte, atividades que foram esvaziadas quando a prefeitura criou a Secretaria de Turismo e Cultura.
Annamélia, formada na primeira turma da Escola de Belas-Artes da UFMG, conta que que a “escolinha” começou efetivamente em 1965, quando o casal Nuno foi passar um fim de semana em Ouro Preto e não resistiu: adotou a cidade. Como realizavam um trabalho mais contemporâneo, distinto do que dominava Ouro Preto na época, passaram a ser muito procurados por moradores interessados em respirar outros ares estéticos. O casal decidiu criar um curso que se arrastou com dificuldade – o único aluno foi Sussuca , que viria a ganhar evidência mais tarde. A saída foi procurar Murilo Rubião.
Na mesma época, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) criava o Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC). Combinou-se o seguinte: o IFAC ficaria por conta de teatro e dança, e a escola Rodrigo Mello Franco investiria em Artes Plástica e no curso de restauração. Este último teve à frente o restaurador Jair Inácio, verdadeiro ícone ouro-pretano de origem pobre e autodidata, que acabou por lecionar também na Europa.
Ampliação
Vera Pinheiro, atual presidente da FAOP, diz que a fundação passou por um período de queda de atividade na década de 80. Hoje a Fundação abrange oficinas de carpintaria, cantaria (arte em pedra) e artesanato em ferro. Há também projeto de uma fundição a cera perdida, para uso em escultura. Para permitir que esses serviços possam ser prestados a terceiros, foi criada a Associação de Amigos da FAOP. Pela legislação atual, a fundação, de direito público-vinculada à secretaria de Estado da Cultura, está impedida de prestar serviços.
A FAOP conta também com a livraria Murilo Rubião com um acervo de 1700 títulos sobre artes, número que não pode crescer muito em razão de risco de excesso de peso vivido pela edificação. A fundação mantém ainda o Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis, que oferece um curso técnico de formação de restauradores com duração de dois anos. Há também os cursos livres de pintura, escultura, desenho, iniciação artística e de máscaras. Este último recupera a velha tradição dos “máscaras” que precediam, de forma irreverente, as procissões do Triunfo Eucarístico. Coube à fundação a restauração da casa onde viveu Alberto Guignard, nos seus últimos anos, na praça Antônio Dias, 80, em Ouro Preto. Na casa, de propriedade da família de Pedro Aleixo, cedida à Fundação em regime de comodato (isto é, concessão por tempo determinado), funciona atualmente o Centro Presidente Pedro Aleixo, mais uma unidade da FAOP.    
Escola formou em Ouro Preto geração de artistas importantes
A presença de Nello Nuno e Annamélia em Ouro Preto deu um sopro de modernidade no mercado tomado pela “pintura turística”, diz Márcio Sampaio curador da exposição: ”Verde que te quero Vermelho”, com obras dos dois artistas, a ser realizada no período de 20 a 25 de novembro. Sampaio destaca que o artista morto em 1975, aos 36 anos, foi um dos primeiros a rejeitar a influência de Guignard , substituindo o “edulcorado das pinturas coloniais"por uma “pintura densa de cores terrosas, feias para o gosto comum, então em moda”. O curador destaca que, já nos anos 60, Nello Nuno surpreendia com colagens de jornais sobre pinturas setorizadas, nas quais as notícias apareciam misturadas com outras formas barroquizadas. Para Sampaio, o artista antecipou a arte-objeto e a arte conceitual em séries realizadas em 1967. Nesses trabalhos, utilizava caixas de acrílico, plantas, bichos vivos e pinturas. No entanto, o curador acredita que o mais importante em Nuno foi a valorização da "pintura-pintura" em meio a todos experimentalismos. “Ele nunca abriu mão de ser pintor”, diz Sampaio.
Se o fundamental em Nuno é o “essencialismo", a principal característica da obra de Annamélia, 62, premiada na 10ª Bienal de São Paulo, de 1969, por sua xilogravura, é a tensão entre os planos internos e externos da peça xilográfica.“Enquanto no interno há referências figurativas ligadas à imaginária e à talha barroca, externamente a estrutura é geométrica”, avalia Sampaio. Sua obra tem uma “pulsação expressionista “, analisa.
“Quando comecei, não tinha como distinguir entre o convencional e o contemporâneo”, diz Jorge dos Anjos, que ingressou na FAOP aos 13 anos., em 1970, e é o curador da exposição de trabalhos de ex-alunos da Escola Rodrigo Melo Franco de Andrade, a ser inaugurada no dia 21 de novembro. Jorge diz que na época de seu ingresso, Jair Inácio dava aulas não só de restauração como também de pintura. Só que o ensino de pintura era mais voltado para o conhecimento de materiais e preparo de tintas, o que acabou por dar um perfil especial àquela geração de alunos, pintores com verniz de mestres –artesões. Essa geração inclui, entre outros, Gélcio Fortes (pintor e diretor do museu Casa de Guignard, de Ouro Preto), Sussuca, Chiquitão, José Efigênio, Guilherme Mansur (também poeta e editor) e o próprio Jorge dos Anjos, conhecido pelo trabalho marcado por motivos afro-brasileiro. (WCF).  
     


TRÊS DÉCADAS DE ARTE NA FAOP

Jornal "O TEMPO"
Magazine / página 5 / 10/1998

sábado, 15 de setembro de 2018


Retrospectiva Anna Amélia Lopes
(Annamelia)
55 anos de Arte
Resolvi documentar a minha vida artística.
Porque?
Creio que para reviver momentos, lembranças mil... toda uma procura de sentidos.
Pelo prazer de lembrar de amigos que tanto me ajudaram nas minhas buscas,
nas minhas descobertas.
Tantas portas foram abertas, mas sempre encontro outras mais para abrir.
Tantas angústias vivi, tanto medos, tantas perdas.
Muitas alegrias, risadas e entusiasmo...
Percorrendo as fases de minhas obras vejo risos e tristezas.
É a vida e seus mistérios que sempre tentei compreender.
As pessoas vendo minhas gravuras, desenhos e pinturas, quem sabe
poderão sentir como eu?
E o mistério continua, pois como disse Bartolomeu Campos Queiróz: O eterno?
“Nossa mente é muito humana para entender...”
 A vida também


A Mulher Forte 
Gravura em metal
Aguaforte , água tinta, verniz mole



Verbete sobre Annamélia no Dicionário das Artes Plásticas no Brasil
Roberto Pontual
Editora Civilização Brasileira 1969 


ANNAMÉLIA, Anna Amélia Lopes de Moura Rangel, dita (Nova Lima MG 1936).
Desenhista e gravadora. Frequentou a Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais, residindo depois em Lagoa Santa e Ouro Preto.
Participou do X Festival Universitário de Arte (Belo Horizonte 1961) / Primeiro Prêmio em desenho e Terceiro em gravura e das mostras de artistas brasileiros contemporâneos na cidade de Lagos (Nigéria 1963) e de artistas mineiros em Brasília (1966) e de artistas mineiros em Brasília (1966), conquistando ainda prêmio de aquisição no XVIIl SMBABH (1963) e no lll SOP (1969), bem como o primeiro prêmio de gravura no Salão da Aliança Francesa (Belo Horizonte 1969). Realizou exposições individuais na Guignard (Belo Horizonte 1966) tem lecionado gravura na Faculdade de Belas Artes e Artes Gráficas de Belo Horizonte.
Maristela Tristão disse a seu respeito em 1966: Se busca retratar não é pela imagem simples das formas, mas pelo que elas contêm de subjetivamente belo (...) E as obras dos grandes mestres do passado ressurgem nos casarios, becos e fachadas, torres e nas sacadas de ferro, rendilhadas agora nas linhas sensíveis, leves e luminosas dos desenhos de Annamelia.
Já Márcio Sampaio registrando o desenvolvimento de seu trabalho, em artigo no Suplemento Literário Minas Gerais (nº 140 5 de julho de 1969), comentou: “Esse trabalho Annamélia continuou até 1966, quando, vindo para Belo Horizonte, iniciou uma fase nova com a atenção voltada para outro lirismo, inspirado na música popular brasileira”. A esta nova fase se seguiu, a partir de 1968, com o aproveitamento dos jogos de cartas.


quinta-feira, 13 de setembro de 2018


Matriz em cobre de gravura- 1975 














Agua forte e água tinta relevo e 
recorte de chapa

Casal e menino e espiral 
Gravura em metal.Agua forte e água tinta
1977

Texto de Márcio Sampaio no convite da exposição de Annamélia e Carlos Wolney
no Palácio das Artes, Belo Horizonte em 1977

ANNAMÉLIA
CARLOS WOLNEY

INFÂNCIA REVISITADA
Dando continuidade à sua programação de exposições, o Palácio das Artes apresenta na Grande Galeria a obra recente de dois artistas mineiros:
Annamélia e Carlos Wolney. Realizando um trabalho inteiramente pessoal, eles se ligam por uma mesma intenção – a redescoberta da infância – que caracteriza suas respectivas obras.
Mas a revisita à infância não representa, como poderia parecer à primeira vista, um retrocesso técnico ou primarismo, ao contrário, sua aproximação à expressão infantil representa uma longa e penosa jornada: é a busca da espontaneidade, de uma linguagem límpida com que o artista aprofunda o sentido da criação, da vida, das descobertas.
Tanto Annamélia como Carlos Wolney buscam refletir o mundo revelado e transfigurado pela sensibilidade da criança ainda não contaminada pelos convencionalismos. É talvez esta mesma pureza que aristas como Paul Klee e Dubuffet procuram imprimir em suas obras para dar-lhes densidade e sentido no momento em que o mundo em volta imerge na desordenação e no caos. Deve-se aqui compreender que tais artistas que perseguem a pureza da expressão fazem com sua experiência adulta, usando uma técnica altamente depurada, através da qual poderão criar o equivalente e não a cópia da arte infantil.
ANNAMELIA LOPES D3E MOURA RANGEL, diretora e professora da Escola de Arte da Fundação de Arte de Ouro Preto, apresenta nesta exposição uma série de gravuras em metal onde se sente, claramente, a projeção dos valores espirituais que formam e conformam Ouro Preto, Depois de uma etapa em que a xilogravura servia ao gosto lúdico da criação de cartas de jogar com figuração barroca, Annamélia voltou à densa paisagem subjetiva que a gravura em metal , com suas requintadíssimas nuances, permite-lhe explorar. A figura sensível ganhou maior espontaneidade, soltou-se em livre vôo, para encontrar, na forma da expressão infantil (não infantilizado) a melhor maneira de referir-se a esses medos e sonhos que nos envolvem em Ouro Preto. Sonhos que absorvem a luz dento da treva para projetar caminhos novos, inventariar mistérios – o mistério da vida nas suas circunstâncias e incertezas.
CARLOS WOLNEY, professor na Escola de Arte Guignard, apresenta desenhos e pinturas realizados nos dois últimos anos. Segundo o crítico Ângelo Oswaldo, ”é a consciência da infância, retorno ao mundo mágico e puro daqueles que ainda não se contaminaram pelas tensões, o que enreda o desenho de Carlos Wolney.
Ao universo infantil, ele torna as coisas simples, a tranquilidade da vida aos olhos da criança para envolve-las, com humor e lirismo, em suas estórias. As personagens se entregam ao jogo: os fragmentos da idade perdidas e confundem-na sequência que a carga poética e a ironia desordenam. Essa visão sincrética da vida constitui a opção, a saída.
Márcio Sampaio


quarta-feira, 12 de setembro de 2018


Mas talvez meus caminhos sejam tristes demais para você...

Xilogravura - 02 matrizes 
1968  / 48X32

segunda-feira, 10 de setembro de 2018



Trecho de Márcio Sampaio sobre as cartas de Oposição 

“(...) De Minas, o revérbero da festa, o triunfalismo do barroco, esta “tentativa de conter pelo ilusório e o maravilhoso a marcha transformadora do tempo”. A festa como forma de compreender o mundo e a vida. E o pacto-lúdico. Anamélia transfigura o barroco, e o saltar deste fogo é jogo em liberdade, plenitude do ato criador. O refinamento da forma como modo de viver: e o jogo que esta forma propõe, o próprio viver. A partir de vinhetas da tipografia da época, Anamélia grava suas cartas, inventando-as para o nosso tempo. Com elas, a artista propõe  um jogo (e joga) , fazendo nascer, na repetição obsessiva do elemento dramático, uma forma exterior, geométrica, tensionando com as oposições o espaço-mundo que as cartas atuam (ANAMELIA). (...)”


Suplemento Literário de Minas Gerais
Artes Plásticas
Márcio Sampaio – Três Artistas de Minas
Data provável: 1979

sexta-feira, 7 de setembro de 2018


A Inocência e a Ganância 
Matriz de courogravura 
com intervenção de pintura de menina.
 32X24          1973


CADERNO B – JORNAL DO BRASIL –
Rio de Janeiro, terça-feira, 25 de setembro de 1973 – PÁGINA 5
Texto de Maurílio Torres

COUROGRAVURA – UM NOVO CAMPO DE PESQUISA
    Belo Horizonte (Sucursal) – Fazendo pesquisas com sobras do couro empregado pelos alunos do Curso de Artesanato da Escola de Artes Plásticas da Fundação de Arte de Ouro Preto, a gravadora mineira Annamélia Rangel criou um novo tipo de gravura, já batizada de courogravura.
    Com o novo processo – ainda em fase de pesquisas em seu atelier da Rua do Rosário, em Ouro Preto – Annamélia conseguiu resultados inteiramente novos na técnica de reprodução de gravuras. Em vez de usar madeira ou metal como matriz, a artista resolveu usar o couro, que, por ser um material facilmente flexível, permite que as reproduções sejam feitas, a cada vez, de uma maneira diferente. Isso resulta num “movimento real das figuras inseridas, que podem mudar de posição ou interferir na composição da gravura, dependendo da maneira como o couro é colocado, no momento de fazer a reprodução.
QUESTÃO DE POSIÇÃO
Annamélia começou suas pesquisas com couro há dois anos. Um dia, por curiosidade, resolveu fazer um desenho num pedaço do material, utilizando pirogravo, e, ao reproduzir, que o efeito era semelhante ao de gravura em metal.......
Criei uma espécie de misto desenho e courogravura . A matriz de couro seria usada, mas somente como uma espécie de sustentáculo, e o desenho sairia do dentro da matriz. Movimentando a matriz flexível, , a gravadora tira várias cópias de um mesmo desenho, todas com características diversas, completando cada desenho com seu próprio traço, à mão, do que decorrem várias fases de um mesmo desenho, reproduzido sucessivamente. Assim numa das gravuras aparecem um menino e uma bandeira e à medida que o couro vai sendo dobrado, o espaço entre o menino e a bandeira fica menor até que esta se enrola no garoto. Por último, o menino rasga a bandeira. Em outro há um menino e uma bola e ele movimenta o brinquedo de uma extremidade a outra do quadro.
O couro, como material para gravura, além de ter a vantagem de ser flexível, tornando possíveis os arranjos descritos, é tão bom quanto o metal ou a madeira, segundo Annamélia  Rangel.
- Somente demorei um pouco a dominar a entintagem, afirma a gravadora, que cedo verificou
 ser o couro muito absorvente tendo sido necessário fazer uma nova mistura de tinta afim de que uma mesma aplicação permitisse várias cópias.
Questão de composição
Atualmente, não mais estou utilizando tinta de impressa, que utilizava nas primeiras reproduções. Estou utilizando o Neutrol, que é uma tinta de se pintar couro, usada apenas nos trabalhos de artesanato. Primeiro eu imprimo a gravura e depois completo o desenho com nanquim ou aquarela. A tinta é excelente para reproduções, pois é feita com extrato de nogueira, a mesma base usada antigamente para a pintura em madeira nas igrejas barrocas. - O que demonstra ser um material muito bom não susceptível de sofrer modificações devidas ao tempo ou à temperatura ambiente.
No começo Annamelia usou vários tipos de tinta, inclusive misturando óleo com a tinta normal de impressão.....
.......Para entintar a chapa de metal gravada usa-se aquecer a chapa antes da entintagem para que a tinta se dissolva com maior facilidade. Mas quando se tenta aquecer o couro ele tende a encolher…. Com isso descobri um outro efeito bonito, ao tentar o método de aquecimento usado para o metal, verifiquei que o couro tende a encolher, ao mesmo tempo, porém, obtive um efeito chamado craquilê (a gravura cheia de fissuras, como um solo de barro ressecado pelo sol). .....
Mas essa técnica será ainda objeto de outras pesquisas que Annamélia fará em Ouro Preto.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

domingo, 2 de setembro de 2018


Revoada  serie "Cartografia Afetiva de Ouro Preto"
Pintura a óleo 70 x 100 cm
2018


Tropical -  serie "Cartografia Afetiva de Ouro Preto"
Pintura a óleo 70 x 100 cm
2018