sexta-feira, 7 de setembro de 2018


CADERNO B – JORNAL DO BRASIL –
Rio de Janeiro, terça-feira, 25 de setembro de 1973 – PÁGINA 5
Texto de Maurílio Torres

COUROGRAVURA – UM NOVO CAMPO DE PESQUISA
    Belo Horizonte (Sucursal) – Fazendo pesquisas com sobras do couro empregado pelos alunos do Curso de Artesanato da Escola de Artes Plásticas da Fundação de Arte de Ouro Preto, a gravadora mineira Annamélia Rangel criou um novo tipo de gravura, já batizada de courogravura.
    Com o novo processo – ainda em fase de pesquisas em seu atelier da Rua do Rosário, em Ouro Preto – Annamélia conseguiu resultados inteiramente novos na técnica de reprodução de gravuras. Em vez de usar madeira ou metal como matriz, a artista resolveu usar o couro, que, por ser um material facilmente flexível, permite que as reproduções sejam feitas, a cada vez, de uma maneira diferente. Isso resulta num “movimento real das figuras inseridas, que podem mudar de posição ou interferir na composição da gravura, dependendo da maneira como o couro é colocado, no momento de fazer a reprodução.
QUESTÃO DE POSIÇÃO
Annamélia começou suas pesquisas com couro há dois anos. Um dia, por curiosidade, resolveu fazer um desenho num pedaço do material, utilizando pirogravo, e, ao reproduzir, que o efeito era semelhante ao de gravura em metal.......
Criei uma espécie de misto desenho e courogravura . A matriz de couro seria usada, mas somente como uma espécie de sustentáculo, e o desenho sairia do dentro da matriz. Movimentando a matriz flexível, , a gravadora tira várias cópias de um mesmo desenho, todas com características diversas, completando cada desenho com seu próprio traço, à mão, do que decorrem várias fases de um mesmo desenho, reproduzido sucessivamente. Assim numa das gravuras aparecem um menino e uma bandeira e à medida que o couro vai sendo dobrado, o espaço entre o menino e a bandeira fica menor até que esta se enrola no garoto. Por último, o menino rasga a bandeira. Em outro há um menino e uma bola e ele movimenta o brinquedo de uma extremidade a outra do quadro.
O couro, como material para gravura, além de ter a vantagem de ser flexível, tornando possíveis os arranjos descritos, é tão bom quanto o metal ou a madeira, segundo Annamélia  Rangel.
- Somente demorei um pouco a dominar a entintagem, afirma a gravadora, que cedo verificou
 ser o couro muito absorvente tendo sido necessário fazer uma nova mistura de tinta afim de que uma mesma aplicação permitisse várias cópias.
Questão de composição
Atualmente, não mais estou utilizando tinta de impressa, que utilizava nas primeiras reproduções. Estou utilizando o Neutrol, que é uma tinta de se pintar couro, usada apenas nos trabalhos de artesanato. Primeiro eu imprimo a gravura e depois completo o desenho com nanquim ou aquarela. A tinta é excelente para reproduções, pois é feita com extrato de nogueira, a mesma base usada antigamente para a pintura em madeira nas igrejas barrocas. - O que demonstra ser um material muito bom não susceptível de sofrer modificações devidas ao tempo ou à temperatura ambiente.
No começo Annamelia usou vários tipos de tinta, inclusive misturando óleo com a tinta normal de impressão.....
.......Para entintar a chapa de metal gravada usa-se aquecer a chapa antes da entintagem para que a tinta se dissolva com maior facilidade. Mas quando se tenta aquecer o couro ele tende a encolher…. Com isso descobri um outro efeito bonito, ao tentar o método de aquecimento usado para o metal, verifiquei que o couro tende a encolher, ao mesmo tempo, porém, obtive um efeito chamado craquilê (a gravura cheia de fissuras, como um solo de barro ressecado pelo sol). .....
Mas essa técnica será ainda objeto de outras pesquisas que Annamélia fará em Ouro Preto.

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