terça-feira, 18 de setembro de 2018


Texto de Ângelo Oswaldo

PENSAR 
Estado de Minas / pagina 3 / 22 de novembro de 1993
Arte em lance de tacos
Gravura de Anna Amélia

A destacada gravadora mineira apresenta obras recentes
 em exposição na Galeria da Cemig 

Anna Amélia Lopes de Oliveira é nome reconhecido no campo da gravura no Brasil.
Participou da Bienal de São Paulo. E dirigiu por muito tempo a escola “Rodrigo Melo Franco de Andrade” da Fundação de Arte de Ouro Preto, Faop, onde criou um importante atelier destinado à formação das gerações novas. Simultaneamente, levou adiante uma pesquisa original, que contribuiu tanto para a qualidade das paisagens ouro-pretanas  que gosta de gravar quanto para o surgimento de uma vertente própria, marcada por uma maneira de criar caminhos.
Ao serializar o que chamou de tacos pelo formato retangular das pranchas, a gravadora conquistou um elemento chave para a evolução de seu trabalho. A montagem das pranchas acabou sugerindo-lhe a ideia de um jogo e estimulou   a articulação lúdica dos fragmentos gravados. Como um quebra cabeça com peças para serem armadas, ou no caleidoscópio, com a seguida transformação da imagem pelo movimento, ela passou a jogar com as lâminas, de modo a também tirar partido de sua cor. Lembranças dos dominós e das cartas ultrapassando as formas tradicionais dos próprios jogos, alcançando novas possibilidades. O formato triangular adveio dessa movimentação. 
Através do gesto lúdico, Annamélia expandiu a dimensão de seus trabalhos, ao multiplicar as lâminas e ampliar as superfícies ocupadas. Figuras gravadas começaram a dialogar entre si, e essa nova relação acabou por insinuar a colagem. Assim fragmentos de impressão diversas se superpuseram às peças gravadas, permitindo à artistas resultados inéditos. A gravura torna-se uma soma de técnicas e potencialidades, aguçando ainda mais a criatividade da autora. Pode-se dizer com o poeta, que o lance de tacos não abole o acaso: a artista se compraz com a reinvenção proposta aleatoriamente pelas laminas, deixa-se conduzir, mas, ao mesmo tempo atinge pontos que já a haviam fascinado. É assim que por vezes, narrativas parecem querer entrarem cena em questões que inquietam a sensibilidade da gravadora emergem como a emoção que vem à flor da pele. A raiz do ludismo também aflora: são jogos que saltam das gravuras para a terceira dimensão e convidam o espectador a armá-los. Arte e jogo se encaixam. E se completam.

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