segunda-feira, 24 de setembro de 2018



 A realidade da Fundação de Arte de Ouro Preto,
20 anos depois
Jornal HOJE EM DIA/ Belo Horizonte, 04 de abril de 1989

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Permanece a fama de uma boa escola

Felizmente sempre existem pessoas conscientes do papel cultural que desempenham, acima das efemeridades dos governos e resistem a todo o custo. Na Faop, entre os que se enquadram na situação, está a artista plástica Anna Amélia Lopes de Oliveira, fundadora da instituição e ainda em plena atividade no curso de gravura em metal. Ela reconhece a pior crise da fundação, motivo de sobra para um desaquecimento da escola, mas trabalha e torce para uma reversão no processo.
Há pouco mais de 20 anos, Annamélia e seu marido Nello Nuno (falecido em 75), mudaram-se para Ouro Preto. Os dois artistas plásticos recebiam muitas pessoas que traziam indagações sobre arte. Decidiram então criar uma escola de arte para atender a demanda, porém sentiram de perto as dificuldades financeiras dos interessados. Boa parte da população da cidade é constituída por pessoas de outros lugares, estudantes que mal consegue marcar com moradia e alimentação.
O casal ofereceu a escola para a Faop, maneira dos interessados usufruírem gratuitamente do ensino de arte, e assim foi feito. A fundação que acabara de ser criada pelo governador Israel Pinheiro, depois de uma intensa movimentação da classe artística de Minas, incluindo nomes como Vinícius de Morais (morava em Ouro Preto na época), Domitila do Amaral, Murilo Rubião e Afonso Ávila, ganhava uma escola de arte.
Annamélia foi a diretora durante dez anos e lembra os anos de intensa movimentação, dos professores Amílcar de Castro, (de escultura), Afrânio Lacerda (música), Moacir Laterza (história da arte) e muitos outros
O curso de restauração foi implantado por um dos pioneiros do ramo, Jair Afonso Inácio, falecido em 82 e agora substituído por Orlando Ramos. Através deste curso a profissão tomou força no país.
Nos seus melhores anos, a fundação sediou numerosos acontecimentos que reforçavam sua importância. Recebia professores convidados para cursos rápidos, palestras e debates, somando a seu currículo nomes como João Câmara, Frederico de Morais e Olívio Tavares. Programavam-se exposições dos alunos, peças de teatro, etc.
“Tudo isso, enfatiza Annamélia, acompanhando o espírito de uma escola livre, em que não há tentativas de tolhimento por parte do corpo docente em detrimento do discente, ou seja, não existe padronização ou sujeição a um determinado estilo, mas basicamente um trabalho de desenvolver no aluno suas próprias tendências.”
Os programas dos cursos são maleáveis e adaptáveis a diversas situações de nível cultural dos estudantes, o que resulta na não definição de tempo para duração do curso.
A escola não exige pré-requisito, não pede provas vestibulares, é gratuita, fornece material básico de atelier. A seleção se restringe a uma entrevista com o candidato e é feita porque a escola não tem condições físicas de abrigar todos os alunos. Eles são ao todo, somando-se os cursos, 300 alunos em média anual. O curso de restauração, por exemplo, abre 10 vagas ao ano.
A filosofia, o cenário, a capacidade do corpo docente, enfim, “a escola tem tudo para dar certo”, observa Annamélia, que considera o mais importante neste momento de insegurança, conseguir manter o quadro de professores. O desânimo é patente, não há incentivos, e se por um lado os alunos não têm culpa da crise, é difícil cobrar a presença de um professor que praticamente paga para dar aula - a maioria do corpo docente é de Belo Horizonte.
O resultado da insuficiência salarial é que o professor tem que se dedicar a outras atividades para sobreviverem. A própria Anna Amélia, mesmo mantendo a dedicação à Faop (seu curso é dos menos afetados) não interrompeu seu trabalho artístico com gravuras, através do qual completa o sustento de sua família. A defasagem salarial sem reposição desde janeiro de 86, é de 1.017% segundo o Sindicato dos Professores de Minas Gerais, e a dúvida é até quando o amor à escola vai suportar a situação de penúria.
Observação:
Gostaria de saber o repórter autor deste texto, infelizmente não tenho o registro no recorte do jornal , se alguém o identificar por favor faça contato pelo e-mail annaalo36@gmail.com.
Annamélia


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