Texto de Márcio Sampaio no convite da
exposição de Annamélia e Carlos Wolney
no Palácio das Artes, Belo Horizonte em
1977
ANNAMÉLIA
CARLOS WOLNEY
INFÂNCIA REVISITADA
Dando continuidade à sua programação de exposições, o
Palácio das Artes apresenta na Grande Galeria a obra recente de dois artistas
mineiros:
Annamélia e Carlos Wolney. Realizando um trabalho
inteiramente pessoal, eles se ligam por uma mesma intenção – a redescoberta da
infância – que caracteriza suas respectivas obras.
Mas a revisita à infância não representa, como poderia
parecer à primeira vista, um retrocesso técnico ou primarismo, ao contrário,
sua aproximação à expressão infantil representa uma longa e penosa jornada: é a
busca da espontaneidade, de uma linguagem límpida com que o artista aprofunda o
sentido da criação, da vida, das descobertas.
Tanto Annamélia como Carlos Wolney buscam refletir o mundo
revelado e transfigurado pela sensibilidade da criança ainda não contaminada
pelos convencionalismos. É talvez esta mesma pureza que aristas como Paul Klee
e Dubuffet procuram imprimir em suas obras para dar-lhes densidade e sentido no
momento em que o mundo em volta imerge na desordenação e no caos. Deve-se aqui
compreender que tais artistas que perseguem a pureza da expressão fazem com sua
experiência adulta, usando uma técnica altamente depurada, através da qual
poderão criar o equivalente e não a cópia da arte infantil.
ANNAMELIA LOPES D3E MOURA RANGEL, diretora e professora da
Escola de Arte da Fundação de Arte de Ouro Preto, apresenta nesta exposição uma
série de gravuras em metal onde se sente, claramente, a projeção dos valores
espirituais que formam e conformam Ouro Preto, Depois de uma etapa em que a
xilogravura servia ao gosto lúdico da criação de cartas de jogar com figuração
barroca, Annamélia voltou à densa paisagem subjetiva que a gravura em metal ,
com suas requintadíssimas nuances, permite-lhe explorar. A figura sensível
ganhou maior espontaneidade, soltou-se em livre vôo, para encontrar, na forma
da expressão infantil (não infantilizado) a melhor maneira de referir-se a
esses medos e sonhos que nos envolvem em Ouro Preto. Sonhos que absorvem a luz
dento da treva para projetar caminhos novos, inventariar mistérios – o mistério
da vida nas suas circunstâncias e incertezas.
CARLOS WOLNEY, professor na Escola de Arte Guignard,
apresenta desenhos e pinturas realizados nos dois últimos anos. Segundo o
crítico Ângelo Oswaldo, ”é a consciência da infância, retorno ao mundo mágico e
puro daqueles que ainda não se contaminaram pelas tensões, o que enreda o
desenho de Carlos Wolney.
Ao universo infantil, ele torna as coisas simples, a
tranquilidade da vida aos olhos da criança para envolve-las, com humor e
lirismo, em suas estórias. As personagens se entregam ao jogo: os fragmentos da
idade perdidas e confundem-na sequência que a carga poética e a ironia
desordenam. Essa visão sincrética da vida constitui a opção, a saída.
Márcio Sampaio
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