quinta-feira, 13 de setembro de 2018


Texto de Márcio Sampaio no convite da exposição de Annamélia e Carlos Wolney
no Palácio das Artes, Belo Horizonte em 1977

ANNAMÉLIA
CARLOS WOLNEY

INFÂNCIA REVISITADA
Dando continuidade à sua programação de exposições, o Palácio das Artes apresenta na Grande Galeria a obra recente de dois artistas mineiros:
Annamélia e Carlos Wolney. Realizando um trabalho inteiramente pessoal, eles se ligam por uma mesma intenção – a redescoberta da infância – que caracteriza suas respectivas obras.
Mas a revisita à infância não representa, como poderia parecer à primeira vista, um retrocesso técnico ou primarismo, ao contrário, sua aproximação à expressão infantil representa uma longa e penosa jornada: é a busca da espontaneidade, de uma linguagem límpida com que o artista aprofunda o sentido da criação, da vida, das descobertas.
Tanto Annamélia como Carlos Wolney buscam refletir o mundo revelado e transfigurado pela sensibilidade da criança ainda não contaminada pelos convencionalismos. É talvez esta mesma pureza que aristas como Paul Klee e Dubuffet procuram imprimir em suas obras para dar-lhes densidade e sentido no momento em que o mundo em volta imerge na desordenação e no caos. Deve-se aqui compreender que tais artistas que perseguem a pureza da expressão fazem com sua experiência adulta, usando uma técnica altamente depurada, através da qual poderão criar o equivalente e não a cópia da arte infantil.
ANNAMELIA LOPES D3E MOURA RANGEL, diretora e professora da Escola de Arte da Fundação de Arte de Ouro Preto, apresenta nesta exposição uma série de gravuras em metal onde se sente, claramente, a projeção dos valores espirituais que formam e conformam Ouro Preto, Depois de uma etapa em que a xilogravura servia ao gosto lúdico da criação de cartas de jogar com figuração barroca, Annamélia voltou à densa paisagem subjetiva que a gravura em metal , com suas requintadíssimas nuances, permite-lhe explorar. A figura sensível ganhou maior espontaneidade, soltou-se em livre vôo, para encontrar, na forma da expressão infantil (não infantilizado) a melhor maneira de referir-se a esses medos e sonhos que nos envolvem em Ouro Preto. Sonhos que absorvem a luz dento da treva para projetar caminhos novos, inventariar mistérios – o mistério da vida nas suas circunstâncias e incertezas.
CARLOS WOLNEY, professor na Escola de Arte Guignard, apresenta desenhos e pinturas realizados nos dois últimos anos. Segundo o crítico Ângelo Oswaldo, ”é a consciência da infância, retorno ao mundo mágico e puro daqueles que ainda não se contaminaram pelas tensões, o que enreda o desenho de Carlos Wolney.
Ao universo infantil, ele torna as coisas simples, a tranquilidade da vida aos olhos da criança para envolve-las, com humor e lirismo, em suas estórias. As personagens se entregam ao jogo: os fragmentos da idade perdidas e confundem-na sequência que a carga poética e a ironia desordenam. Essa visão sincrética da vida constitui a opção, a saída.
Márcio Sampaio


Nenhum comentário:

Postar um comentário