sábado, 1 de setembro de 2018


ANNA AMÉLIA – UMA NOVA CARTOGRAFIA
Márcio Sampaio
Desenhista, pintora e gravadora, Anna Amélia Lopes desenvolve uma obra que se caracteriza por elevado nível técnico que lhe permite imprimir com grande vigor sua particular leitura do mundo.
Trabalhando com a xilogravura,  vai tocar o reverso dessa paisagem, para desvelar o drama estabelecido pelos conflitos de luz e sombra, pela exposição de mundos opostos, pelo jogo dramático das contingências humanas. Gravando em tacos de piso de madeira, imprime os módulos com que vai montar estruturas geométricas.
Da longa convivência com Ouro Preto, cidade que escolheu para morar com o marido, Nello Nuno e os filhos, soube assimilar o pathos singular da expressão barroca, transportando-o para o espaço contemporâneo. Na gravura em metal e no desenho, vem realizando uma leitura da paisagem ouropretana, lírica, de saboroso detalhismo, com o qual potencializa um sentido de fantasia feliz.  Gravando em chapas de metal, extremamente sensíveis aos complexos processos técnicos que domina com maestria, a artista vem revelando aspectos da paisagem de Ouro Preto, sua topografia e suas construções, ruas, becos, praças, morros, vegetações – imprimindo a atmosfera peculiar dessa cidade emblemática, impregnada de silêncios e mistérios.
Da interpretação da paisagem em perspectiva renascentista, Anna Amélia mudou, recentemente, seu ponto de vista para a tomada aérea, planificando os panoramas, para construir uma nova cartografia, com riqueza de detalhes que podemos identificar, porém com a liberdade de às vezes trair a realidade ao adicionar elementos inexistentes.
Na pintura, a fantasia é que dá o tom dessa figuração que quer dizer de um cenário percebido no plano da realidade, mas que insiste em ser mais além do que o olhar vê. Cores fortes que respondem a uma pulsação mais emocional contaminam as formas arquitetônicas, desfazem o rigor da técnica cartográfica, para nos brindar com uma outra paisagem impregnada de poesia. Um “topos” em que natureza e construção se complementam com fantasia e afetividade. Espaço simbólico a indicar a existência de uma cidade que será sempre o lugar bom para se viver e sonhar.


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